Por Fernando Serra e Manuel Portugal Ferreira
A dinâmica dos acontecimentos e o “rush” do dia-a-dia podem levar a empresa a desviar-se do seu foco estratégico. Por exemplo, um estudo realizado em empresas privadas americanas pelo Jensen Group, concluiu que muitas vezes os executivos das empresas não conseguem estabelecer objetivos, passa o tempo saltando de uma preocupação para outra, quer aprendendo a última moda da gestão, quer preocupada com a concorrência. Outras empresas possuem estratégias extremamente complexas, em alguns casos com centenas de objetivos (táticos e operacionais), o que torna impossível a implementação. Assim, a perda do foco, quer pela aflição do dia-a-dia, quer pelo aproveitamento de toda e qualquer oportunidade aparente, esvazia a visão do líder e destrói a intenção estratégica da organização. Os recursos organizacionais, sejam eles tangíveis, intangíveis ou humanos, que são já por si muitas vezes escassos, são utilizados ineficazmente quando não há um foco estratégico claro que orienta eficazmente a sua alocação nas atividades e negócios.
Um estudo revelado pela revista Fortune, na década de 1990, nos EUA conduzido com empresas norte-americanas, revelou que 70% das empresas falham na execução da estratégia. A taxa de sucesso de implementação da estratégia é baixa: entre 10% a 30%. Um estudo, da consultora Ernest & Young, em 1998, avaliou as maiores empresas norte-americanas, e descobriu que cerca de 35% dos investidores consideram que a habilidade de executar a estratégia é mais importante que a própria qualidade da estratégia elaborada. No entanto, podemos acrescentar que uma boa estratégia bem implementada dará melhores resultados.
Adicionalmente, a implementação normalmente dá ênfase à mudança da estrutura organizacional, o que reduz a motivação para que a organização e os seus funcionários, com sinergia, busque o foco estratégico. Para ser eficaz, a administração estratégica, como processo, não pode considerar fronteiras entre setores e departamentos. A visão global da organização é sistémica e integrativa. Não é atingível com o esforço de apenas alguns “solitários”. Considera, assim, como os recursos organizacionais agregam valor.
Hrebibniak, em seu livro Fazendo a Estratégia Funcionar (Editora Bookman, 2006), argumenta sobre alguns aspectos ligados à implementação ou execução da estratégia:
- execução leva tempo, pois o tempo de implementação é com certeza muito superior ao da formulação e, assim, pode acontecer a perda de foco e atenção aos detalhes, alem de ser um processo dinâmico e adaptativo.
- execução envolve muito mais pessoas que a formulação, assim a comunicação é um grande desafio e quanto maior a quantidade de pessoas envolvidas na execução, mais difícil será.
- execução envolve gestores em todos os níveis hierárquicos, assim os executivos de topo não podem crer que a estratégia formulada vai acontecer sem que eles se comprometam e que os demais níveis vão fazer acontecer só porque uma estratégia existe.
- execução implica em mudança e gerenciá-la é difícil pois implica em mudar estrutura, incentivos, controles, pessoas objetivos e responsabilidades, o que é ameaçador.
- execução ainda implica em clareza de objetivos, compartilhamento e orientação.
O modelo de Hrebiniak pode ser representado pela figura a seguir.O modelo apresentado na figura argumenta que a existência de uma estratégia formulada é fundamental.
A escolha da estrutura também é muito importante para a implementação da estratégia. A estrutura organizacional afeta as pessoas a funções e estipula níveis de autoridade e responsabilidade, indicando como os vários papeis se integram na empresa, de modo a aumentar a eficiência, qualidade, inovação e adaptação ao cliente. O propósito da estrutura é, portanto, integrar e coordenar todos os colaboradores a todos os níveis. No entanto, por si não gera um incentivo nem motivação para as pessoas. São, assim, necessários sistemas de controle que não apenas proporcionam aos gestores formas de verificar o desempenho das peassoas envolvidas, mas também quanto a empresa está conseguindo desenvolver ou reforçar uma vantagem competitiva. A cultura organizacional forma a base de valores, normas e padrões de conduta que sustentam a interação entre as pessoas e entre a empresa e o seu exterior.
Uma nova estratégia é um processo de mudança organizacional. Com a aceleração da adaptação, em função do meio, do acirramento da competição ou mesmo pela pressão de estar à frente, as empresas são forçadas a mudar cada vez mais. Para que a mudança aconteça efetivamente, não basta a estratégia por si. Estrutura, indicadores e recompensa são fundamentais, assim como comunicação e incentivos. Afinal, a mudança acontece com e por intermédio das pessoas.



