domingo, 28 de abril de 2013

O tempo dirá: A propósito da fusão Anhanguera-Kroton.

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A anunciada fusão entre já duas grandes Universidades – ou sistemas, já que incluem várias IES – tem dado que falar nos mídia nacionais. Há motivo para falatório, já que o novo mega grupo se formou um gigante no negócio da formação com 1 milhão de alunos, em 800 faculdades e um faturamento anual de 4,3 bilhões (segundo dados na Valor Econômico). Aparentemente será o maior grupo educacional do mundo (não consegui confirmar este dado com informações de fonte segura, mas na internet encontrei que algumas universidades podem ser maiores em número de alunos inscritos:
Bangladesh National University, Bangladesh – 1 milhão de estudantes
Allama Iqbal Open University, Paquistão – 1,8 milhões
Islamic Azad University, Irã – 1,9 milhões
Anadolu University, Eskisehir, Turquia – quase 2 milhões
 Indira Gandhi National Open University, Índia – 3,5 milhões
(fonte: http://www.seriousrankings.com/top-10-largest-universities/#ixzz2RY43KFR7).
O que mais me chamou a atenção é que as notícias na mídia falam da valorização acionista, mas não consegui ainda ler quaisquer comentários sobre a evolução qualitativa do ensino prestado, nem sobre eventuais planos para uma contribuição mais profunda na formação superior ao nível de mestrado ou doutorado. Ou seja, maior é bom, mas não sabemos se significará melhor.
O tempo dirá, mas a fusão Kroton e Anhanguera parece a forma de conseguir uma nova oportunidade de ganhos de escala pelo corte de custos, portfólio em duas classes e algum para os acionistas (temos que ver depois). Mas não me parece algo de longo prazo.
À falta de analisar o plano estratégico que sustentou esta fusão, consigo entender eventuais benefícios de custos – que são o estereótipo da produção em massa, coisa que sabemos com a revolução industrial na versão taylorista. A produção em massa garante homogeneidade mas de pouco serve essa consistência se não for acompanhada por melhorias.
O maior poder de mercado pode conseguir fazer baixar mais as remunerações dos docentes – com a provável consequência de degradação da qualidade, e as mensalidades dos alunos. Alguns ganhos administrativos clássicos de economias de escala podem também ser conseguidos antes que as deseconomias burocráticas entrem em ação.
Do lado dos benefícios tenho algumas dúvidas. A minha convicção é que quando aumenta a renda do cidadão ele começa a querer diferenciar-se e a procurar produtos e serviços melhores. Enfim, podem ser apenas diferenciados quando avaliar objetivamente qualidade seja especialmente difícil. Curiosamente, embora seja difícil avaliar ex ante a qualidade do ensino numa universidade,  o mercado parece conseguir fazer esta análise. Assim, além de todo o processo de captação se poder tornar complexo para uma tão grande instituição, pode haver reais perdas de alunos.
À falta de uma bola de cristal, parece-me que no médio prazo há motivo para algumas faculdades e universidades se preocuparem. Aqui entra a estratégia e a necessidade de se diferenciarem,  possivelmente captando um público crescente cujo rendimento vai aumentando e que vai querendo uma formação melhor, numa instituição com mais reputação. Trabalhar a proposta de valor via aprendizado garante a atração de alunos e consistência de longo prazo independentemente do público-alvo. Propostas de uma educação com valor agregado e consistente de massa estão faltando.

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