quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Universidades Corporativas e Escolas de Negócio: parceiras e não concorrentes.

As Universidades Corporativas (UCs) nascem, principalmente, por três motivos, sobre os quais arrisco a colocar em ordem de prioridade:
- resolver, de forma focada, o problema de atualização e formação de pessoas na organização. Por exemplo, tradicionalmente, a UC da Petrobras tem se preocupado com isso. Não se trata somente da especificidade do treinamento para uma empresa tão grande e de um ramo tão exclusivo em conhecimento, mas do volume e da localização dos participantes.
- cobrir lacunas na prestação do serviço por parte das instituições de ensino tradicionais. As instituições de ensino e suas escolas de negóco não se prepararam, em geral, para atender às necessidades corporativas ou mesmo para anteverem suas necessidades futuras. Por exemplo, a European School of Management de Berlim, tem se destacado no ensino executivo na Europa apesar do pouco tempo de existência. Foi formada com o patrocínio de um conjunto de grandes companhias alemãs para diminuir as lacunas de formação executiva no país.
- por último, e infelizmente por estar em último, atuar como catalisadora para preparar pessoas e a organização para o futuro. O caso da Algar apresentado é um bom exemplo de uma empresa que pensa, literalmente, como o lema de seus dirigentes, “cem anos a frente”. Outro exemplo mais tradicional é o da GE, como seu “action learning”, trabalhando equipes de executivos em problemas reais.
Entretanto, qualquer que seja a motivação, em um ambiente dinâmico e conectado, as UCs precisam ter acesso a expertise, conteúdo, professores, alunos e conexões das escolas de negócio. Porém, e vale o alerta, algumas UCs se afastam do propósito fundamental, ao se preocuparem exclusivamente com o preço e necessidades momentâneas de treinamento, passando a gerenciar fora de seu foco. O termo universidade corporativa é uma alusão, e não tem o mesmo sentido do termo de uma instituição de ensino tradicional, focada na construção e disseminação de conhecimento fundamental.
Na educação de executivos, aliás como em qualquer outra atividade educativa, é preciso dar significado à aprendizagem. Isto quer dizer, focá-la nos desafios presentes e futuros de empresa / funcionário. Esta é a barreira a ser ultrapassada para uma parceria efetiva entre escolas de negócio e empresas. Um exempo positivo, tem sido a construção e implementação do programa de desenvolvimento de líderes da Volvo, numa relação próxima entre a empresa e a parceria HSM Educação com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
- Dar significado à aprendizagem
O primeiro desafio de dar significado à aprendizagem significa compreender que ensino é meio e não fim. O foco é a aprendizagem que depende do participante. Assim, projetos conjuntos entre empresas e escolas de negócio devem ir além do conteúdo, mas contemplar o momento de carreira (ver Figura) e elementos que influenciam o desenvolvimento.


A Figura apresenta de forma elucidativa um ciclo completo de carreira executiva. Na Figura, o eixo vertical representa a amplitude dos conhecimentos e habilidades genéricos a serem desenvolvidos. O eixo horizontal, representa a evolução temporal ao longo de um ciclo completo de carreira executiva. Neste caso, são três possibilidades de conhecimentos e habilidades:
- conhecimento técnico – predomina no início da carreira dos executivos e, em geral, estará focado em conteúdos técnicos, bem como na utilização pratica destes conteúdos. Por exemplo, habilitar um condutor de locomotivas na utilização de novos equipamentos (num trabalho realizado pela Affero LAB), ou, habilitar um jovem engenheiro a aprender e aplicar conhecimentos específicos de engenharia do petróleo (na parceria Petrobras e universidade).
- conhecimento de gestão – em geral, predomina nos cargos de coordenação e gerência, cuja ênfase é habilitar a planejar e executar. Por exemplo, uma capacitação tradicional em planejamento estratégico ou orçamentação.
- habilidades pessoas – fundamental para galgar postos de relevância, é, no entanto, um caminho a ser construído desde jovem. Importante pelo desafio de trabalhar com a geração Y, como pela juniorização de cargos (pessoas cada vez mais jovens exercendo funções de liderança). Para esta finalidade, os métodos tradicionais de ensino-aprendizagem costumam falhar. Outros métodos complementares que dão mais significado e sentido ao aprendizado, como a aprendizagem com base em problemas reais (action learning), coaching e mentoring, passam a fazer parte da solução.
- Elementos essenciais
Pelo exposto, a aula tradicional centrada no conhecimento do professor não faz sentido. Na aprendizagem executiva, três elementos devem ser considerados:
- conteúdo – treinar sem conhecimento significa não possibilitar a reflexão e o progresso a partir de novos desenvolvimentos e aplicações pelo indivíduo;
- prática – conhecer sem fazer não dá significado ao conhecimento e nem valor, pois não se enxerga a sua utilidade e aplicabilidade;
- comportamento – conhecer e fazer sem ser, não possibilita ao indivíduo progredir, por limitar seus resultados pelo intermédio de parceiros, equipes e pessoas em geral.
- Compreender os desafos presentes e futuros das empresas
As empresas têm estado muito pressionadas pelo curto prazo. O resultado do trimestre se soprepõe quase sempre e ameaça sua longevidade. Um cuidado fundamental é conseguir equilibrar as necessidades de curto prazo (por exemplo, ter operadores de call center treinados), com as de médio prazo (por exemplo, reter, motivar e tornar estes operadores canais de satisfação de clientes), com estratégicas (por exemplo, garantir os futuros executivos e líderes para os desafios de amanhã).

Sintetizando: as UCs não devem resumir a sua existência somente pelo fato de as instituições de ensino tradicionais não compreenderem e atenderem adequadamente os seus desafios. Trabalhar com parceiros acadêmicos, com foco nas necessidades presentes e futuras, considerando o participante como elemento central, possibilita melhores resultados em função das competências específicas de cada organização. Diversas experiências e estudos têm mostrado que uma parceria bem administrada entre UC e escolas de negócio possibilitam melhores resultados tanto no curso como no longo prazo.

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