As Universidades Corporativas (UCs) nascem, principalmente, por três
motivos, sobre os quais arrisco a colocar em ordem de prioridade:
- resolver, de forma focada, o problema de atualização e
formação de pessoas na organização. Por exemplo, tradicionalmente, a UC da
Petrobras tem se preocupado com isso. Não se trata somente da especificidade do
treinamento para uma empresa tão grande e de um ramo tão exclusivo em
conhecimento, mas do volume e da localização dos participantes.
- cobrir lacunas na prestação do serviço por parte das
instituições de ensino tradicionais. As instituições de ensino e suas escolas
de negóco não se prepararam, em geral, para atender às necessidades
corporativas ou mesmo para anteverem suas necessidades futuras. Por exemplo, a
European School of Management de Berlim, tem se destacado no ensino executivo
na Europa apesar do pouco tempo de existência. Foi formada com o patrocínio de
um conjunto de grandes companhias alemãs para diminuir as lacunas de formação
executiva no país.
- por último, e infelizmente por estar em último, atuar como catalisadora para
preparar pessoas e a organização para o futuro. O caso da Algar apresentado é
um bom exemplo de uma empresa que pensa, literalmente, como o lema de seus
dirigentes, “cem anos a frente”. Outro exemplo mais tradicional é o da GE, como
seu “action learning”, trabalhando equipes de executivos em problemas reais.
Entretanto, qualquer que seja a motivação, em um ambiente
dinâmico e conectado, as UCs precisam ter acesso a expertise, conteúdo,
professores, alunos e conexões das escolas de negócio. Porém, e vale o alerta,
algumas UCs se afastam do propósito fundamental, ao se preocuparem
exclusivamente com o preço e necessidades momentâneas de treinamento, passando
a gerenciar fora de seu foco. O termo universidade
corporativa é uma alusão, e não tem o mesmo sentido do termo de uma instituição
de ensino tradicional, focada na construção e disseminação de conhecimento fundamental.
Na educação de executivos, aliás como em qualquer outra
atividade educativa, é preciso dar significado à aprendizagem. Isto quer dizer,
focá-la nos desafios presentes e futuros de empresa / funcionário. Esta é a barreira a ser ultrapassada para uma parceria efetiva entre escolas de
negócio e empresas. Um exempo positivo, tem sido a construção e implementação
do programa de desenvolvimento de líderes da Volvo, numa relação próxima entre
a empresa e a parceria HSM Educação com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
- Dar significado à
aprendizagem
O primeiro desafio de dar significado à aprendizagem
significa compreender que ensino é meio e não fim. O foco é a aprendizagem
que depende do participante. Assim, projetos conjuntos entre empresas e escolas
de negócio devem ir além do conteúdo, mas contemplar o momento de carreira (ver Figura) e elementos que influenciam o desenvolvimento.
A Figura apresenta de forma elucidativa um ciclo completo de
carreira executiva. Na Figura, o eixo vertical representa a amplitude dos
conhecimentos e habilidades genéricos a serem desenvolvidos. O eixo horizontal,
representa a evolução temporal ao longo de um ciclo completo de carreira
executiva. Neste caso, são três possibilidades de conhecimentos e habilidades:
- conhecimento técnico – predomina no início da carreira dos
executivos e, em geral, estará focado em conteúdos técnicos, bem como na
utilização pratica destes conteúdos. Por exemplo, habilitar um condutor de
locomotivas na utilização de novos equipamentos (num trabalho realizado pela Affero LAB), ou, habilitar um jovem
engenheiro a aprender e aplicar conhecimentos específicos de engenharia do
petróleo (na parceria Petrobras e universidade).
- conhecimento de gestão – em geral, predomina nos cargos de
coordenação e gerência, cuja ênfase é habilitar a planejar e executar. Por
exemplo, uma capacitação tradicional em planejamento estratégico ou
orçamentação.
- habilidades pessoas – fundamental para galgar postos de
relevância, é, no entanto, um caminho a ser construído desde jovem. Importante
pelo desafio de trabalhar com a geração Y, como pela juniorização de cargos
(pessoas cada vez mais jovens exercendo funções de liderança). Para esta
finalidade, os métodos tradicionais de ensino-aprendizagem costumam falhar.
Outros métodos complementares que dão mais significado e sentido ao aprendizado, como a
aprendizagem com base em problemas reais (action learning), coaching e
mentoring, passam a fazer parte da solução.
- Elementos
essenciais
Pelo exposto, a aula tradicional centrada no conhecimento do
professor não faz sentido. Na aprendizagem executiva, três elementos devem ser
considerados:
- conteúdo – treinar sem conhecimento significa
não possibilitar a reflexão e o progresso a partir de novos desenvolvimentos e
aplicações pelo indivíduo;
- prática – conhecer sem fazer não dá significado
ao conhecimento e nem valor, pois não se enxerga a sua utilidade e
aplicabilidade;
- comportamento – conhecer e fazer sem ser, não possibilita ao
indivíduo progredir, por limitar seus resultados pelo intermédio de parceiros,
equipes e pessoas em geral.
- Compreender os
desafos presentes e futuros das empresas
As empresas têm estado muito pressionadas pelo curto prazo.
O resultado do trimestre se soprepõe quase sempre e ameaça sua longevidade. Um
cuidado fundamental é conseguir equilibrar as necessidades de curto prazo (por
exemplo, ter operadores de call center treinados), com as de médio prazo (por
exemplo, reter, motivar e tornar estes operadores canais de satisfação de
clientes), com estratégicas (por exemplo, garantir os futuros executivos e
líderes para os desafios de amanhã).
Sintetizando: as UCs não devem resumir a sua existência
somente pelo fato de as instituições de ensino tradicionais não compreenderem e
atenderem adequadamente os seus desafios. Trabalhar com parceiros acadêmicos,
com foco nas necessidades presentes e futuras, considerando o participante como
elemento central, possibilita melhores resultados em função das competências
específicas de cada organização. Diversas experiências e estudos têm mostrado
que uma parceria bem administrada entre UC e escolas de negócio possibilitam
melhores resultados tanto no curso como no longo prazo.




0 comentários:
Postar um comentário