quinta-feira, 19 de junho de 2014

Tendências do Ensino Superior apresentadas no Horizon Report 2014

O ensino superior, no mundo, mas também no Brasil, faz já algum tempo, espera um impacto significativo das novas tecnologias sobre a aprendizagem, operação e sobre os modelos de negócio. As ferramentas estão aí, mas os processos de ligação das ferramentas às necessidades e anseios dos alunos ainda engatinham. O Prof. Manuel Portugal Ferreira fez um resumo das novas tendências para o ensino superior a partir do Horizon Report.


Horizon Report: 2014 Higher Education Edition
Johnson, L., Adams Becker, S., Estrada, V., Freeman, A. (2014). NMC Horizon Report: 2014 Higher Education Edition. Austin, Texas: The New Media Consortium.

Assunto: Este relatório identifica e descreve tecnologias emergentes que poderão ter grande impacto na educação – ensino, aprendizagem e criatividade - nos próximos 5 anos.

Resultados: O relatório identifica 18 tópicos que impactarão o planejamento de tecnologia, 6 grandes tendências, 6 desafios e 6 desenvolvimentos importantes nas tecnologias de educação.
(os dados em que se baseiam podem ser baixados em: go.nmc.org/itunes-u, usando o i-tunes)
Os resultados são apresentados em três categorias para as instituições de ensino: políticas (ou ações), liderança e prática. No essencial estes resultados envolvem alguns aspectos interessantes:
·       Data-driven learning and assessment – o que significa compilar dados e fazer análises estatisticas para ver o que se pode melhorar, inclusive para melhorar avaliações dos alunos, lacunas nas infraestruturas, etc,
·       Usar as media sociais para conseguir maior envolvimento e participação dos diversos stakeholders,
·       Estudantes como criadores e não apenas como consumidores,
·       Utilização de tecnologias de comunicação (e-learning como complementar às aulas, com comunicação síncrona ou assíncrona) mas atendendo ao design instrucional para conseguir o mesmo tipo de interação que em aulas convencionais. Interessante aqui é a referência ao que designam por adaptive learning e personalized tutoring services– em que o material se adapta às respostas dos alunos, mostrando soluções, repetindo exercícios idênticos, etc., que conseguem identificar áreas em que cada aluno tem mais dificuldade e trabalhar com o aluno nesses tópicos.

Para uma outra perspectiva sobre este estudo, vale ver aqui: http://horizon.wiki.nmc.org/
Metodologia: Em essência, este relatório mostra o processo e os resultados de um estudo Delphi conduzido junto de 850 especialistas. O processo envolveu as usuais etapas de um estudo Delphi. Mas, o início (ou fundamentos do estudo) foi apresentando aos participantes as seguintes 4 questões - ponho aqui as questões porque me parecem relevantes para quem quer pensar efetivamente sobre este assunto (tradução minha entre parêntesis):

1 Which of the key technologies catalogued in the NMC Horizon Project Listing will be most important to teaching, learning, or creative inquiry within the next five years? (Quais as principais tecnologias que serão mais importantes para o ensino, aprendizagem e pensamento criativo nospróximos5 anos)
2 What key technologies are missing from our list?
Consider these related questions:
> What would you list among the established technologies that some educational institutions are using today that arguably all institutions should be using broadly to support or enhance teaching, learning, or creative inquiry? (Quais as tecnologias estabelecidas que algumas instituições já utilizam que possivelmente TODAS as instituições deveriam estar a usar para melhorar o ensino, aprendizagem e criatividade?)
> What technologies that have a solid user base in consumer, entertainment, or other industries should educational institutions be actively looking for ways to apply? (Quais as tecnologias que já têm forte uso por consumidores, entretenimento, ou outras indústrias, que as instituições de ensino deveriam estar ativamente a procurar formas de usar?)
> What are the key emerging technologies you see developing to the point that learning-focused institutions should begin to take notice during the next four to five years? (Quais são as principais tecnologias emergentes que você vê a desenvolver-se ao ponto que instituições de ensino deveriam começar a prestar atenção nos próximos 4 ou 5 anos?)
3 What trends do you expect to have a significant impact on the ways in which learning-focused institutions approach our core missions of teaching, learning, and creative inquiry? (Que tendências espera que tenham um impacto significativo na forma como as instituições de ensino realizam a sua função chave de ensino, aprendizagem e pensamento criativo?)
4 What do you see as the key challenges related to teaching, learning, or creative inquiry that learning-focused institutions will face during the next five years? (Quais pensa que serão os principais desafios relacionados com ensino, aprendizagem e pensamento criativo que as instituições enfrentarão nos próximos 5 anos?)




PRINCIPAIS TENDÊNCIAS
1. Crescimento dos media sociais (tendência a 1 ou 2 anos)
Facebook, Twitter, Pinterest, Flickr, YouTube, Tumblr, Instagram
For educational institutions, social media enables two way dialogues between students, prospective students, educators, and the institution that are less formal than with other media. As social networks continue to flourish, educators are using them as professional communities of practice, as learning communities, and as a platform to share interesting stories about topics students are studying in class. Understanding how social media can be leveraged for social learning is a key skill for teachers, and teacher training programs are increasingly being expected to include this skill.

O relatório dá algumas “ideias” vagas de como esta integração dos social media pode ocorrer. A colocação de vídeos online, a partilha de informação são as dimensões que emergem. (No entanto, não me parece muito específico.)

2. Integração de aprendizagem online, hibrida e colaborativa (1 ou 2 anos)
Não faz apologia de um modelo mas realça o benefício de integrar os vários modelos nos cursos. Os cursos online proporcionam maior dinamismo, flexibilidade e acessibilidade aos alunos. Em especial realça conteúdos e cursos híbridos que exigem maior interactividade entre estudantes. Alguns estudos parecem mostrar que ambientes online desenvolvem capacidade de resolver problemas, de multi-tasking e mesmo de comunicação.
Aqui aparece a ideia de cursos híbridos em que a par com as aulas gravadas e conteúdos próprios há um canal com o professor tutor que permite a comunicação síncrona com o tutor.
Também aparece a ideia que mesmo os modelos de avaliação às disciplinas podem permitir trabalho de grupo. O que se privilegia não é a memorização mas sim desenvolver capacidade de resolver problemas e encontrar soluções criativas.

3. Data-Driven Learning and Assessment (3 a 5 anos)
Em essência consiste em coletar dados dos alunos, inclusive das suas avaliações online, para modificar estratégias e processos de aprendizagem. Quanto mais atividades forem online maior o rasto de dados que os alunos deixam que podem ser analisados para melhorar o ensino e aprendizagem, identificar lacunas e fontes de insucesso, etc.

4. De estudantes como consumidores para estudantes como criadores (3 a 5 anos)
Em essência é a aprendizagem através da construção e não apenas de conteúdos pré feitos. Isto exige cursos em que parte da aprendizagem é “hands on” (ou por as mãos na massa). Um exemplo são os “fabrication labs” com impressoras 3D.
Mas, este tipo de lógica pode ser aplicado mesmo em Administração. Por exemplo, em empreendedorismo os alunos criarem projetos de novos negócios.

5. Agilidade a mudanças (+ 5 anos)
Uma lógica empreendedora nos currículos. Isto significa mesmo empreendedora e direcionar as disciplinas para resolver problemas e serem mais práticas (exemplo, alunos de direito ajudarem jovens inventores a fazer uma patente real para as suas invenções). No essencial parece-me que é dar uma vertente mais prática, ou profissional, aos cursos. Mas, alguns exemplos dados incluem: competições de planos de negócio, tutoria/mentor de um profissional a um estudante, por exemplo na construção de um plano de negócios.

6. Evolução do ensino online (+ 5 anos)
Os benefícios do ensino online são bem entendidos hoje: flexibilidade, acessibilidade, integração de diversas tecnologias e, gradualmente, com ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona.
(um estudo de Babson aponta que cerca de 30% (ou 7milhões) dos alunos americanos teve pelo menos uma disciplina online)
O sucesso futuro do ensino online parece estar na incorporação de novas tecnologias que permitam maior adaptação e personalização e garantam qualidade. Uma vantagem adicional prende-se com a capacidade de proporcionar esta adaptação.
In the summer of 2013, Pearson took their partnership with big data technology-provider Knewton to the next level by offering more than 400,000 college students enrolled in first-year science and business courses access to adaptive tutorial services. The technology detects patterns of students’ successes and failures with the course material and provides personalized tutoring accordingly.


DESAFIOS
1. baixa fluência digital dos professores
Auto-explicativa combate-se com qualificação em cursos dos professores, com incentivos da instituição mas sempre fornecendo conteúdos de qualidade.

2. Recompensa pelo ensino relativamente baixa
A pesquisa é mais valorizada que o ensino. Solução: cursos de pedagogia aos professores e adaptar o ensino para aumentar sucesso de aprendizagem.

3. Competição de novos modelos de educação
Cursos online proliferam, muitos MOOCs (Massive Open Online Course) gratuitos.
No entanto, os MOOc têm muito baixas taxas de conclusão (4 a 15%) e podem já estar a decair.
In the fall of 2012, Colorado State University-Global Campus became the first college to offer credit to students who passed a MOOC if they registered and paid a fee. A year later, not a single student had taken advantage of the offer.


4. Escalar (dar escala) às inovações de ensino
A dúvida é como dar escala a tudo isto. Uma solução parece ser vender disciplinas isoladamente e não cursos inteiros (licenciaturas ou MBAs ou…).
Uma barreira ainda está nas agências de acreditação dos cursos.

4. Expandir o acesso
Expandir o acesso significa, em muitos casos, alargar o acesso à universidade a alunos que não têm a preparação suficiente e que precisam de mais apoio. As universidades não têm recursos nem tempo para atender às necessidades destes potenciais alunos.
Mas, o número de jovens que chegam à idade de entrar para a universidade é impressionante. Em alguns países como o Dubai, Qatar, etc, constroem universidades, mas em muitos outros (toda a África, Índia, etc) é quase impossível fazer crescer a rede física de universidades para acomodar todos estes alunos.  Uma solução é o online.
Mas, nem todos os países têm infraestrutura de comunicações que suportem essas novas tecnologias (é o digital divide).
Outros públicos: deficientes físicos, minorias, pobres, mulheres nos países árabes e muçulmanos, etc. que não têm acesso à universidade (e formação) tradicional.

5. Manter a educação relevante
As universidades não desaparecerão mas algumas partes podem diluir-se. Na base disto está o mercado de trabalho, os custos de estudar. O argumento é que o online retirará parte do mercado à universidade tradicional que não se adapte. A solução apresentada parece basear-se em proporcionar competências aos alunos. No entanto,  parece,  também, que novamente aqui se fala de integrar o online e o presencial (ou face-to-face). Ou seja,  modelos híbridos.
Há algumas experiências interessantes:
- programas centrados nos estudantes focados na demonstração dos resultados da aprendizagem, e
- programas baseados nas competências adquiridas, em vez de créditos, de modo a serem mais atrativos a potenciais empregadores.

DESENVOLVIMENTOS NA TECNOLOGIA
A lista seguinte contem todas as tecnologias disponíveis. Mas, de entre estas foram selecionadas 6 mais relevantes. As 6 aparecem em seguida.



1. Flipped classroom
A ideia é que as aulas sejam mais interativas, dedicadas à solução de problemas, etc., e não à transmissão unidirecional de informação que pode ser acedida nos conteúdos disponibilizados. Os conteúdos podem estar em muitos formatos distintos: vídeos, PPTs, áudio, screencasts, artigos, c-books, etc. (os conteúdos podem, por exemplo, ser acedidos na Khan Academy ou na Jorum)

2. Learning Analytics
Análise “big data” para customizar o ensino de cada estudante, para saber áreas de dificuldade, para conhecer lacunas em cada universidade ou região ou campus, etc. As possiblidades são inúmeras.
Quanto mais atividades, disciplinas e cursos ocorrerem online mais dados se podem extrair para análise futura.

3. 3D printing
Permite construir um modelo tangível de um protótipo.

4. Games and Gamification
A ideia é que os jogos não são apenas entretenimento mas que podem ser desenvolvidos para promover a interação entre várias pessoas num ambiente onde precisam fazer algo, tomar decisões, etc. Há exemplos de jogos de banca, de estratégia, de desenvolvimento de produtos, de marketing e expansão comercial, motivação dos trabalhadores, design de uma cidade, saúde e ambiente, etc.
As simulações digitais, por exemplo, de um ambiente empresarial em que equipes têm de competir com outras equipes, são outro exemplo.

5. Quantified Self
Equipamentos que registram o que a pessoa faz, seja nos esportes (fitness) ou em outras dimensões da vida.
Os dados coletados podem ser usados em múltiplas áreas. Por exemplo, em medicina, ao observar os comportamentos do indivíduo.

6. Virtual Assistants
Software de reconhecimento de voz e gestos que permite às pessoas interagir sem ser com um computador e teclado. (são os assistentes virtuais dos filmes de ficção científica – mas há progressos com estas tecnologias)


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