terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sorte ou intenção: histórias do tio João - parte 1


 por Fernando Serra

Algumas pessoas nos servem de exemplo pessoal e profissional para nós. Na minha evolução como jovem, fui profissionalmente influenciado pelo meu tio João. Vou escrever três histórias que ele me contou no final de sua vida. Esta é a primeira.

Muitos de nós reclamam da falta de sorte, ou apontam a sorte dos outros. No caso da Mega Sena é até aleatório. Mas evidências mostram que o que muitas vezes chamamos de sorte está ligado à intenção, ao esforço e à perseverança. Decidi exemplificar com 3 histórias do meu tio João.

João Abreu Ribeiro era um imigrante português nascido na Ilha da Madeira em Portugal. Ele, já falecido há alguns anos, era um homem bonito, inteligente, simpático e envolvente, que falava vários idiomas. Chegado ao Brasil logo após a Segunda Grande Guerra, iniciou sua vida como representante comercial nas Ferragens Cavalho. Terminou como sócio da Sideraço, uma empresa de comercialização de tubos de aço sem costura. Entretanto, vamos contar a primeira história do tio João.

No início de sua carreira, andando pelo Rio de Janeiro num dia de muita chuva, com seu carro que tinha pneus recauchutados, ele viu um carro parado e um motorista acenando com um guarda-chuva nas mãos. Ele parou para perguntar se precisaria de alguma ajuda.

Dentro do carro estava um senhorzinho que agradeceu e disse que precisava ir para o aeroporto com urgência. Tio João se ofereceu para levá-lo até lá, mesmo desviando do seu trajeto original.

Conversaram animadamente e falaram de diversos assuntos, dentre eles de produtos metálicos. Despediram-se e o senhor que se havia identificado até então como José, deu ao tio João seu cartão. Era José Ermírio de Moraes, o presidente da Votorantim. Sr. José disse a ele que, se algum dia precisasse de algo, para entrar em contato com um de seus diretores que estaria avisado previamente,

Algum tempo depois tio João estava participando de uma concorrência com o estaleiro da Marinha. Não haviam tubos zincados disponíveis no mercado. A própria Votorantim havia se negado a fornecer, por ter que atender compromissos firmados com outros clientes e distribuidores.

Tio João ligou para o tal diretor da Votorantim, que se lembrava do aviso do patrão e atendeu ao pedido especial do tio João. Ganhar essa concorrência foi muito importante para a evolução da carreira do tio João, então um jovem vendedor. Afinal, foi sorte ou uma consequência de um comportamente voltado para a construção de relacionamentos?

[continua na segunda história]